quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sobre o espetáculo PROFANAÇÂO.


"PROFANAÇÃO", o mais recente trabalho da Cia Danças Claudia de Souza, partiu  inicialmente de uma pesquisa sobre o samba sua história, raízes , movimentos. Concomitante a essa investigação surgiu a inspiração propiciada pela leitura do livro ‘Profanações’ de Giorgio Agamben que veio compor a pesquisa da coreógrafa em observar o samba como um ritual.

 Em seu ensaio Elogio da profanação, Giorgio Agamben se dedica a abrir relações comuns entre as ideias de "usar" e "profanar". Para isto, Agamben parte de uma discussão da etimologia de religio - não a etimologia que nos é dada comumente, religare, mas outra, relegere, que aponta para outro sentido do religioso.

"O termo religio, segundo uma etimologia ao mesmo tempo insípida e inexata, não deriva de religare (o que liga e une o humano e o divino), mas de relegere, que indica a atitude de escrúpulo e de atenção que devem caracterizar as relações com os deuses.

A inquieta hesitação (o "reler") diante das formas - e das fórmulas - a observar para respeitar a separação entre o sagrado e o profano. Religio não é o que une homens e deuses, mas o que se encarrega de mantê-los distintos."

Se a religião pode ser definida como aquilo que subtrai as coisas, os lugares, e os separa, enfim, transferindo tudo para uma esfera do intocável, Agamben propõe justamente o contato como uma forma primeira de profanação - "Há um contágio profano, um tocar que desencanta e devolve ao uso aquilo que o sagrado havia separado e petrificado".

Dentro destas premissas, Cia. Danças Claudia de Souza compõe esta obra para falar de rituais do nosso tempo, presentes em nossos corpos, nossa cultura ... àquilo que testemunhamos e construímos. Estamos aqui tratando dos ritos de passagem, da liminaridade , enquanto comunicação com o sagrado em que símbolos secretos são comunicados para os sujeitos rituais em forma de relíquias, máscaras e instrumentos, contos, narrações míticas, símbolos que representam a unidade e a continuidade do coletivo.

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