"PROFANAÇÃO", o mais
recente trabalho da Cia Danças Claudia de Souza, partiu inicialmente de uma pesquisa sobre o samba sua
história, raízes , movimentos. Concomitante a essa investigação surgiu a
inspiração propiciada pela leitura do livro ‘Profanações’ de Giorgio Agamben
que veio compor a pesquisa da coreógrafa em observar o samba como um ritual.
Em
seu ensaio Elogio da profanação, Giorgio Agamben se dedica a abrir relações
comuns entre as ideias de "usar" e "profanar". Para isto,
Agamben parte de uma discussão da etimologia de religio - não a etimologia que
nos é dada comumente, religare, mas outra, relegere, que aponta para outro
sentido do religioso.
"O termo religio, segundo uma
etimologia ao mesmo tempo insípida e inexata, não deriva de religare (o que
liga e une o humano e o divino), mas de relegere, que indica a atitude de
escrúpulo e de atenção que devem caracterizar as relações com os deuses.
A inquieta hesitação (o "reler")
diante das formas - e das fórmulas - a observar para respeitar a separação
entre o sagrado e o profano. Religio não é o que une homens e deuses, mas o que
se encarrega de mantê-los distintos."
Se a religião pode ser definida como
aquilo que subtrai as coisas, os lugares, e os separa, enfim, transferindo tudo
para uma esfera do intocável, Agamben propõe justamente o contato como uma
forma primeira de profanação - "Há um contágio profano, um tocar
que desencanta e devolve ao uso aquilo que o sagrado havia separado e
petrificado".
Dentro destas premissas, Cia. Danças
Claudia de Souza compõe esta obra para falar de rituais do nosso tempo,
presentes em nossos corpos, nossa cultura ... àquilo que testemunhamos e
construímos. Estamos aqui tratando dos ritos de passagem, da liminaridade ,
enquanto comunicação com o sagrado em que símbolos secretos são comunicados
para os sujeitos rituais em forma de relíquias, máscaras e instrumentos,
contos, narrações míticas, símbolos que representam a unidade e a continuidade
do coletivo.
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