Uma reflexão sobre público,
artista, espetáculo, obra.
· Formação
de público
· Educação
sensível
· Identidade
· Contar
e ouvir histórias
· Histórias
pessoais, coletivas, do lugar, histórias que contribuem para formação de uma
identidade.
· Identidade
= Cultura
· Mitos,
lendas = história = identidade = subjetividade
· Identidade
e alteridade
· Narrativa
= percurso
· Emancipação
· Cuidar
· Olhar
· Sentir
· Agente
transformador e provocador
Esses são pontos que venho observando,
refletindo e praticando e que me levam a reflexão sobre esse polêmico assunto
que é a formação de público. Não
acredito que devemos formar o público para assistir um espetáculo, ouvir uma música,
apreciar uma obra, mas para não abrir mais uma discussão sobre terminologia,
conceitos e palavras resolvi , a princípio, assumir esse nome e me concentrar
em pensar e criar mecanismos e dispositivos de sensibilizar, aguçar e abrir o
caminho das sensações. Tornar isso valido e importante para se experenciar arte.
Transpor o abismo que separa a passividade da atividade.
Muitas questões me foram provocadas pela
leitura do livro Espectador emancipado
de Jacques Rancière .
A emancipação, por sua vez, começa quando
se questiona a posição entre o olhar e agir, quando se compreende que as
evidências que assim estruturam as relações do dizer, do ver e do fazer
pertencem a estrutura da dominação e da sujeição. Começa quando se compreende
que o olhar é também uma ação que confirma ou transforma essa distribuição de
posições. O espectador também age, tal como o aluno ou o intelectual. Ele
observa, seleciona, compara, interpreta. Relaciona o que vê com muitas outras
coisas que viu em outras cenas, em outros tipos de lugares. Compõe seu próprio
poema com elementos do poema que tem diante de si. Participa da performance
refazendo-a a sua maneira, furtando-se, por exemplo, à energia vital que esta
supostamente deve transmitir para transformá-la em pura imagem e associar essa
pura imagem a uma história que leu ou sonhou, viveu ou inventou. Assim são ao
mesmo tempo espectadores distantes e intérpretes ativos do espetáculo que lhes
é proposto.
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Nesses meus anos de contato
com público variado em diversos locais que me apresentei, percebi sempre um
desejo da plateia, sobretudo em entender o espetáculo, o que ele quer dizer,
que história é essa, se entendi certo. Uma dificuldade ou falta de conhecimento
para experimentar apenas a sensação daquele momento, que não tem certo ou
errado em arte, que pode não fazer sentido e muitas vezes não faz.
Essa minha investigação sobre
plateia, publico e cena...na verdade está diretamente ligada ao meu trabalho
como coreógrafa e aos princípios desse trabalho. Evidente que existem muitas
outras maneiras de refletir sobre esse assunto, mas faço um recorte a partir do
que venho experimentando nas minhas criações e interrelações: artista, plateia,
espaço, dramartugia, interpretação...
Abaixo cito mais um trecho
do livro O Espectador Emancipado de Jaqces Rancière, pois ele coloca
questões que me foram e são muito importantes na criação e na análise sobre
esse assunto que venho tratando nas minhas criações.
O espectador deve ser retirado da posição de observador que examina
calmamente o espetáculo que lhe é oferecido. Deve ser desapossado desse
controle ilusório, arrastado para o círculo mágico da ação teatral, onde
trocará o privilégio de observador racional pelo do ser na posse de suas
energias vitais integrais.
Tais atitudes fundamentais resumem o teatro épico de Brecht e o
teatro da crueldade de Artaud. Para um o espectador deve ganhar distância: para
o outro deve perder toda e qualquer distância. Para um deve refinar o olhar,
para o outro deve abdicar da sua própia posição de observador.
Acredito que este trabalho, nesse momento chamado de 'formação de público' (que poderia receber tantos outros nomes pelo seu próprio desenvolvimento), tem um papel muito importante e, sobretudo, questionador em nosso modo de fazer-pensar a arte.
ResponderExcluirEstava lendo o que você escreveu e me fez lembrar de uma aula que tivemos com a professora Helena Katz, dentro da disciplina de Teorias da Dança, quando foi abordado um capítulo do livro do Jacques Rancère. Fui revisitar minhas anotações e senti vontade de compartilhar alguns trechos.
Lembro que a conversa começou a partir da equação tradicional da comunicação do artista com o público, na relação artista-obra-público (emissor-veículo|meio|canal-receptor), que segue sempre a mesma direção. Acontece que na arte contemporânea o percurso de comunicação é outro, o espectador é emancipado deste processo.
Outra referência, que serviu para nos aproximarmos mais da obra de Rancière foi o texto 'A Sociedade do Espetáculo', de Guy Debord, termo que coloca o espectador num lugar de permanente passividade pelo tratamento estético dado às coisas, dos eventos espetacularizados pela mídia (especialmente de massa). O consumo se torna comum de modo que a notícia de jornal, a camiseta, a peça teatral, tudo é consumido da mesma forma. Quando vemos uma bomba caindo em tempo real na tv, a espetacularidade e o enquadramento são os mesmos do cinema, do videogame. Isso reduz a mímese do que é está acontecendo de verdade em oposição ao que parece ser, fazendo com que deixemos de lidar com os fenômenos em sua inteireza.
Mesmo tendo sido denunciada nos anos 70, a realidade apresentada por Guy Debord se faz ainda mais potencializada em nossos dias. Nesse contexto duas podem ser as perguntas de um início de discussão: Na arte contemporânea, pra quem o artista faz sua arte? Como nos emanciparmos do espectador passivo?
A proposta é fazer com que a comunicação se estabeleça na troca, e não numa mesma via, de modo que todos sejam receptores.
Nos cabe investigar esse caminho.